terça-feira, 11 de março de 2014

Ano Europeu da Agricultura Familiar e Dia da Árvore



No âmbito da associação Guardiões do Destino, da qual sou presidente da direção e terapeuta ocupacional, sempre que possível realizo sessões terapêuticas 1x por semana com jovens num dos agrupamentos de portimão.

No passado dia 21 de fevereiro de 2014, os jovens que frequentam as sessões de terapia ocupacional na Júdice Fialho em Portimão, plantaram amendoeiras (5 vasinhos), para que no próximo dia da árvore as transplantem para a terra no espaço das cinco escolas do respetivo agrupamento. Esta atividade teve uma excelente aceitação e os objetivos propostos foram atingidos. Valeu a pena :)

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Sindroma Álcoólico Fetal



A Síndrome Alcoólica Fetal (SAF) é uma doença causada pelo consumo de álcool pelas mulheres grávidas. Quando a futura mãe bebe, o álcool é passado para a criança pela placenta e, pode ter muitos efeitos tóxicos. A bebida alcoólica prejudica algumas áreas do cérebro do bebé e compromete funções importantes como o equilíbrio, aprendizagem, memória e o relacionamento social.

É importante enfatizar que para cada caso da SAF assinala-se, na literatura, que podem existir até 10 casos em que não se encontra o quadro completo, mas crianças que apresentam apenas dificuldades na aprendizagem e alterações no comportamento, alterações essas que são conhecidas como efeitos no feto relacionadas ao álcool (EAF).

Níveis de ingestão de álcool

Os níveis de ingestão de álcool podem ser classificados da seguinte forma:

· Grau I - nível de ingestão leve, por exemplo, uma dose de aguardente de cana por dia, que corresponde a cerca de 50,0 ml de bebida;
· Grau II - de 2 a 3 doses por dia, chamada de ingestão leve a moderada;
· Grau III - de 4 a 5 doses por dia, chamada de ingestão moderada;
· Grau IV - é a ingestão “pesada” de álcool, mais de 6 doses por dia (heavy drinker).

As bebidas destiladas contêm 50% de álcool. O vinho, em geral, contém 12% e a cerveja 5%. A ingestão de duas doses de bebida destilada, como aguardente de cana, uísque, gin, vodca que contêm cerca de 50% de álcool etílico, corresponde, portanto, à ingestão de 50 g de álcool. Embora a cerveja contenha menor concentração de álcool, ela é consumida em grandes quantidades, de maneira geral, o que representa a ingestão de uma enorme quantidade de álcool.
O risco à saúde corresponde ao consumo semanal de 360 g de álcool (aproximadamente uma garrafa com 750 ml de destilado de cana). Na nossa sociedade é importante salientar que, pelo baixo custo de aquisição, o álcool é a droga mais difundida nas classes sociais menos favorecidas.

Entre as gestantes consumidoras de álcool chamam particularmente a atenção os episódios de ingestão aguda de álcool em grandes quantidades (binge dinking , por suas consequências nefastas sobre o feto.

Terminologia

Faz-se necessário o conhecimento da terminologia relativa aos efeitos do álcool no recém-nascido, para sua melhor compreensão.

· Síndrome alcoólica fetal (SAF) corresponde aos defeitos mais graves e é caracterizada por alterações faciais, falência de crescimento e distúrbios do neuro desenvolvimento.
· Efeitos do álcool no feto (EAF) designam a presença de alterações diversas, na ausência da SAF completa.
· Defeitos congênitos relacionados ao álcool, na sigla em inglês referidos como ARBD (alcohol related birth defects).
 · Alterações do neuro desenvolvimento relacionadas ao álcool, na sigla em inglês referidos como ARND (alcohol related neurodevelopmental disorders).


Atualmente todas essas manifestações foram englobadas numa única designação, de alterações fetais devido ao álcool, na sigla em inglês FASD (fetal alcohol spectrum disorders).

A SAF tem vários níveis de gravidade. A doença provoca desde alterações no rosto, até atraso no crescimento, má coordenação motora, atraso mental, dificuldade de aprendizagem, memória e de relacionamento.

As alterações corporais são menos percebidas quando a criança cresce, mas também podem aparecer vários efeitos, tais como: hiperatividade, impaciência, falta de concentração, raciocínio deficiente e memória prejudicada. O conjunto de sintomas chama-se Efeito Alcoólico Fetal (EAF).Se não forem ajudadas, as crianças podem crescer isoladas e com uma baixa-estima, entre outras alterações.

As pessoas com SAF ou EAF podem não saber lidar com dinheiro, tem dificuldade para diferenciar o que é certo ou errado, não conseguem aprender com a experiência, e vivem repetindo os mesmos erros. Além disso, elas também não conseguem controlar suas próprias emoções, por isso podem ser do tipo "pavio curto", têm mais chance de fazer amizades com gente desconhecida e mal-intencionada, pois não percebem que o caráter dessas pessoas é ruim. Frustradas, muitas vítimas da SAF/ EAF abandonam os estudos, caem na marginalidade e acabam usando drogas ou roubam por não aprender com as experiências vividas.


Ao contrário do que muita gente pensa, todos esses sintomas não são "problemas de comportamento", mas sinais de danos permanentes do cérebro. As vítimas da SAF e EAF, não agem desse jeito por querer! Mas nem eles nem suas famílias suspeitam disso. Algumas escolas também rotulam as crianças com SAF de "analfabetas" ou "mal-educadas", sem ter conhecimento da grave doença que elas enfrentam. Por isso, vamos ficar atentos!

Áreas do Cérebro Afetadas

O fato da mulher grávida ingerir álcool durante a gestação pode afetar algumas áreas do cérebro do bebé:

- Lesões secundárias no cérebro, que é o controlo da consciência e dos processos voluntários;
- Hipocampo, responsável pela emoção e memória;
- Gangliobasal, responsável pelo movimento e cognição;
- Cerebelo, responsável pelo equilíbrio, postura e coordenação;
- Hipotálamo, que é a manutenção do equilíbrio das funções do organismo;
- Tálamo, responsável pelo fornecimento de informações ao córtex;
- Córtex, cuida das funções psíquicas superiores;
- Área Septal, responsável pela emoção;
- Corpo Caloso, responsável pela ligação entre os seus dois hemisférios.








No crânio normal, podemos detetar o corpo caloso intacto, e nos outros não o localizamos devido o álcool durante a gravidez.

 Fig 1


Há três critérios mínimos para que se possa caracterizar a SAF, estabelecidos desde os estudos iniciais de 1968: presença de dismorfias faciais, anormalidades do sistema nervoso central e deficit de crescimento.

1. Dismorfias faciais

Caracterizadas por fissuras palpebrais estreitam, prega do epicanto, nariz curto e antevertido, ausência de filtro nasal, retro ou micrognatia, borda vermelha do lábio superior fina e, mais raramente, ptose palpebral, estrabismo e microftalmia (Figura 1).

2. Anormalidades do sistema nervoso central

- Microcefalia (perímetro cefálico inferior ao percentil 10).
- Anormalidades estruturais do cérebro, incluindo agenesia do corpo caloso e hipoplasia cerebelar e ainda defeitos do tubo neural.
- Atraso de desenvolvimento neuro psicomotor, atraso mental (com consequente queda do QI) e alterações de comportamento.

Encontram-se problemas de atenção escolar e redução da relação atenção/memória e há lentidão no processamento de informações. A matéria mais prejudicada na aprendizagem é a matemática.

Segundo Riley et al., a SAF é muito mais uma alteração cerebral do que uma síndrome de características físicas.


3. Deficit de crescimento

Ocorre tanto na vida intrauterina como após o nascimento, comprometendo em graus variáveis as crianças acometidas pela síndrome.

Outros comprometimentos: ocorrem também várias outras malformações congénitas, uma vez que todos os órgãos e sistemas podem ser afetados, seja em maior ou menor grau.


São especialmente importantes:

· Alterações cardíacas (comunicações interarteriais e interventriculares e, mais raramente, Tetralogia de Fallot, coartação da aorta e transposição dos grandes vasos da base);

· Sistema músculo-esquelético e articular (exostoses tibiais, hipoplasias de unhas nos artelhos, malformações de vértebras, levando a escolioses;

· Mais raramente anomalias renais, porém já foram descritas casos de hipoplasia renal e hidronefrose, assim como ectasias da pelve renal;




· A SAF está associada a quatro tipos de desordens auditivas:

1) Atraso no desenvolvimento da função auditiva;
2) Perda sensória neural;
3) Perda condutiva intermitente por otite serosa recorrente;  
4) Perda auditiva central.


As alterações de dismorfismo facial vão modificando-se com a idade, o que torna o reconhecimento da SAF mais difícil, à medida que a criança se aproxima da adolescência, porém algumas características faciais permanecem, principalmente o lábio superior afilado e a ausência de filtro nasal; a puberdade comumente se inicia sem anormalidades.
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Na fase adulta, os indivíduos portadores de SAF têm mais dificuldade de adaptação e convivência social. Há evidências, ainda, de que o uso do álcool na gravidez pode aumentar em até duas vezes os riscos de leucemia não linfocitária aguda na descendência.


Efeitos Praticos do Abuso de Álcool na Gravidez

- Dificuldade de atenção e memória.
- Amizade imprópria com desconhecidos.
- Falta de controlo sobre as emoções.
- Dificuldade de aprender com as consequências.
- Hiperatividade.
- Habilidades pobres de resolver problemas.
- Inabilidade de Discernimento do uso do dinheiro.
- Comportamento social imaturo.
- Controle pobre dos impulsos.
- Julgamento pobre.


Como perceber se uma criança tem SAF/ EAF?

Descobrir se uma criança tem SAF/EAF não é fácil.
Alguns dos sintomas são dificuldade de crescimento, dificuldade de alimentação e demora a começar a se movimentar, comer, falar. Os bebês podem também ter algumas das seguintes características: baixo peso ao nascer, bochechas achatadas, queixo fino, nariz curto, olhos pequenos e separados demais, phintrun pouco visível e lábio superior fino.

Mas, como a criança não apresenta necessariamente todas essas características, é comum que as mães pensem que seus bebês são saudáveis, quando na verdade eles sofrem dos Efeitos do Álcool no Cérebro. Aliás, as alterações físicas causadas pela doença tornam-se mais evidentes entre os dois e dez anos. Na adolescência, o que dá para perceber melhor são as dificuldades de aprendizagem e comportamento. Por isso, é importante ficar atentos sempre e nunca esconder informações das equipas de saúde. Se o seu filho apresentar problemas e o médico perguntar se você bebeu quando estava grávida, não tenha medo de dizer a verdade. Somente assim você vai poder descobrir se a criança tem SAF/ EAF e conseguir ajudá-la.



Como evitar a SAF/ EAF?

Para evitar a SAF/ EAF, a recomendação é uma só: ficar longe de bebidas alcoólicas sempre e principalmente durante a gravidez. O perigo é maior nas primeiras semanas, quando os órgãos do bebé ainda estão em formação. Um grande problema é que muitas mulheres acabam se excedendo na bebida justamente nessa fase tão importante, pois ainda não sabem que vão ser mães. Como não existem níveis seguros para o consumo de álcool por quem está grávida, o melhor é cortar na cerveja, vinho ou qualquer outro tipo de bebida alcoólica. Quem não conseguir, precisa procurar ajuda médica ou associações como o (AA) Alcoólicos Anónimos ou outras.


Como procurar ajuda?

Como a SAF é desconhecida e difícil de identificar, o melhor remédio é a sinceridade. Se durante a gravidez você bebeu e o seu filho apresentou algum dos sintomas que mostramos aqui, procure um posto de saúde e explique a situação ao médico. Quando alguém tem SAF/ EAF ou mostra sinais da doença, mas nunca recebe o diagnóstico, as dificuldades só tendem a aumentar ao longo da vida, causando sofrimento para o doente, para a sua família e para a sociedade que o envolve.
 
Quem tem SAF/ EAF provavelmente está a receber alguma forma de atendimento na área da saúde ou educação especial, levando em conta a doença visível, mas sem saber exatamente o que a criança está sofrendo.


Conclusões

O complexo FASD é decorrente da devastadora ação do álcool sobre o feto.

Uma vez estabelecido, não tem cura e seus efeitos permanecem por toda a vida do indivíduo. Contudo, esses efeitos são inteiramente preveníveis se a mulher se abstiver de ingerir álcool antes da conceção e durante toda a gestação. As autoridades de saúde deveriam investir em programas de educação e sensibilização para divulgar o problema e orientar as gestantes para a não ingestão de bebidas alcoólicas, qualquer que seja a quantidade e, ao mesmo tempo, promover o tratamento daquelas comprovadamente alcoólicas, no sentido de minimizar os efeitos do álcool sobre os seus filhos.